"É muito fácil desmontar o discurso desse menino. 

1. “Figura patética” é um juízo de valor que em si não contribui em nada pra debate nenhum e só reflete imaturidade. 

2. Sobre a “idolatria de Che Guevara” é o mesmo que dizer que todo apoiador do capitalismo idolatra todos os bilionários que enriquecem graças à pura especulação financeira, que exploram e mantêm trabalho escravo, que sonegam e promovem exclusão social. Ser capitalista não significa, necessariamente, compactuar com isso, assim como ser socialista não significa compactuar com seus ditadores. Esse é um discurso dos mais superficiais da direita. 

3. Com esse ponto eu fiquei até com vergonha pelo menino: pense bem, o islamismo é uma religião como todas as outras. Aliás, algumas linhas do cristianismo estão tão fundamentalistas quanto. Ser islamista não significa ser terrorista. Assim como ser católico não significa ser, necessariamente, contra o uso de preservativos, contra o homossexualismo, e obscurantista. Além disso, o direito ao culto é garantido pela constituição. Daqui a alguns anos quando esse menino ver esse vídeo, se tiver lido e aprendido um pouquinho que seja, vai sentir vergonha de si mesmo.

4. Chamar alguém de negro gordo por si só (sem que a performance linguística denuncie preconceito) só pode ser uma ofensa pra quem tem preconceito; fora isso é só uma constatação. Naquele contexto, Jean Wyllys estava dizendo claramente que uma pessoa que, historicamente, é vítima de discriminação, não pode, por lógica, ser contra leis que tentem limar estes preconceitos, sob pena de ser tornar apoiador dos preconceituosos (dos seus algozes).

5. Não passar projetos não significa “parasitar na máquina pública”. Eu posso ser um escroto, ter um projeto escroto e conseguir aprovação de vários outros escrotos e ser consagrado por isso. Os melhores projetos ainda não foram aprovados, e cabe a quem tem ética, vontade política e coragem pra levá-los adiante, a despeito de muitas desaprovações. Caso a lógica fosse essa ( que o garoto defende), todos aqueles que foram reprovados no Brasil por décadas a fio em sua tentativa de criar leis a favor da liberdade dos escravos, e de direitos civis de um modo geral, poderiam ser chamados também de parasitas. Nesse sentido (ainda seguindo essa lógica), caberia a pergunta: que leis Bolsonaro, por exemplo, aprovou em mais de 20 anos de vida pública? 

6. Do discurso moralista e pseudo-humanista. É só ver a história da direita; ela também está manchada de sangue, fome, iniquidade e corrupção.

7. Sobre a origem do BBB. Sabemos que o programa é um lixo, mas em que isso influi na prática política do deputado? Obviamente que influiu na sua eleição, mas isso não faz parte também dessa nossa democracia ignorante? Essas são as regras do jogo, e não respeitá-las seria antidemocrático. 

8. É cultural que nós brasileiros, por falta de acesso à informação e cultura, sempre nos iludimos com discursos bonitinhos e inflamados. Isso não é a minha opinião, mas é o que diz nossos melhores historiadores. Os brasileiros sempre se encantaram com retóricas vazias, com o falar “bonito” e agressivo. Quando uma figura jovem (e despreparada como neste caso) aparece falando desse modo, logo encanta a todos, sem que se perceba o vazio por trás. Ele apenas repete discursos do senso comum.

9. O que faz parecer com que o menino tenha razão em muitos dos seus pontos é que ele parte de falsas premissas e as afirma como verdade. Pra desmontar o raciocínio dele é muito fácil: é só mostrar a falsidade de suas premissas. Num debate, é pouco provável que ele dure muito. 

Certamente muitas críticas podem ser direcionadas a Jean Wyllys, mas acho quase nada se aproveita do que esse menino falou."